Aos Vicentinos do Brasil
“Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4,4)
“Felizes são todos aqueles que vivem sua vocação de servir a Deus com verdadeira alegria, especialmente nós vicentinos que quando vamos aos Pobres com alegria e amor, temos a oportunidade e convicção de que estamos servindo a Deus servindo os Pobres.”
Ser vicentino: uma vocação vivida na Conferência e junto aos Pobres.
Quando iniciamos nossa gestão frente ao Conselho Nacional, escolhemos o lema acima. Uma proposta desafiadora que nos norteia nas decisões e nos rumos da SSVP no Brasil. Ela foi edificada sobre o alicerce firme e forte do testemunho de cada Confrade e Consócia, através da sua presença e atuação vicentina nas Conferências e na vida dos Pobres. Passaram-se dois anos e nos mantermos firmes neste caminho, de orientação e de formação sobre a vida de Conferência e a vida de caminho da casa do Pobre.
Venho relembrar que esta proposta emerge da Espiritualidade de serviço aos Pobres, vivida e testemunhada pelo Beato Antônio Frederico Ozanam, a Bem- Aventurada Rosalie Rendu, São Vicente de Paulo, Santa Luísa de Marillac, Santa Catarina de Laboure, Frassati e tantos outros santos da Família Vicentina, verdadeiros pilares da nossa fé e da esperança de que o caminho para a santidade passa pelo “consumir-se junto dos Pobres”.
As coisas burocráticas da SSVP, que são importantes e reúnem um grande número de lideranças que se consomem diariamente para bem administrar a SSVP, não podem, de forma alguma, tirar nossos vicentinos da vida de Conferência e da vida da casa do Pobre. A administração da SSVP não pode ser maior que nosso carisma, nossa espiritualidade e nosso trabalho principal que é promover nossos assistidos e fazer deles protagonistas em suas próprias vidas. Precisamos sim ser comprometidos com nossa administração, mas sem deixar de lado nossa vocação.
Porque mais importante do que “estar” diretor ou “estar” liderança vicentina, é “ser” Vicentino! Enquanto diretores e lideranças, temos dado testemunho sobre a compreensão, aceitação e compromisso de testemunhar nosso chamado vocacional para “ser” Vicentinos” vivendo a Conferência, vivendo junto dos Pobres?
Podemos dizer que temos vivido, com nossos Assistidos, suas alegrias, seus sonhos, suas conquistas; e suas misérias, suas dores, suas angústias, suas tristezas, sua luta diária por dignidade, emprego, saúde, educação, segurança e esperança de dias melhores?
Como Consócias e Confrades, observados e seguidos por tantos Confrades e Consócias à nossa volta, conhecemos pelo nome todos nossos Assistidos? Sabemos de sua história de vida? Eles nos conhecem pelo nome? Na data dos seus aniversários temos lhes dado parabéns? Quando foi a última vez que na humildade do trabalho de Conferência, saborearemos um cafezinho na casa dos nossos Mestres e Senhores?
Nada faz sentido, nada tem razão de ser, se nas entrelinhas das regulamentações, o peso dos fartos processos burocráticos, da necessidade de iniciativa e tomada de decisões, nós nos afastarmos da Conferência e da casa dos Pobres.
Se nossas salas, sedes e auditórios podem ser comparados com nossos gabinetes de trabalho pela SSVP, então, a reunião de nossas Conferências e a Casa dos Pobres, por mais humildes que sejam, devem ser o “espaço sagrado” onde, por desejo de Deus, em nome de Deus e com Deus, sem mérito algum possamos ser enviados de Deus na vida dos Pobres.
Viver nossa Vocação na Conferência e junto aos Pobres nos compromete ainda mais como Vicentinos, pois teremos de levar esperança onde impera a desilusão, levar luz onde imperam as trevas, levar a Palavra onde a voz é calada, ser a escuta onde o clamor é silenciado, ser amor onde já não existe carinho, ser alimento que sustenta e dá vida diante das situações de morte, ser o Cristo presente em nós de mãos estendidas para ajudar e socorrer, um Cristo presente nos Pobres de mãos estendidas clamando por comer, beber, ser acolhido, poder se vestir, ser visitado… (Mt 25, 31-46)
A Conferência, com suas reuniões e atividades nela desenvolvidas, é a centralidade, a essência, a lógica da própria criação e existência da SSVP. É na Conferência que estão os bons visitadores dos Pobres, é de lá que saem os grandes e melhores líderes e administradores da SSVP. É da Conferência que vem a força que move a SSVP, justificando sua organização, estrutura, regulamentações, investimentos e a necessidade de repensar constantemente a grande rede de caridade mundial, para que ela continue existindo, testemunhando com excelência o amor e o serviço aos mais Pobres.
Cada Vicentino é um tesouro precioso da SSVP, joia rara nas mãos de Deus! Tenham como exemplo a reação de Ozanam que não se dobrou e nem se embruteceu diante da provocação do ateu Jean Broet para que ele fizesse algo pelos Pobres. Ozanam teve a reação de escutar a Deus, despertando-o para sua verdadeira vocação: ir aos Pobres.
Meus amigos, a frase que sempre ecoa e deve ecoar em nossas mentes e Conferências deve ser: VAMOS AOS POBRES!!!
E lá na frente se alguém te fizer a seguinte indagação: “No fim de tudo o que você ganhou sendo bom?”. Apenas sorri e diz: “Não fui bom para ganhar algo em troca, fui porque eu sou assim”. Faço o que sou, porque sou o que vivo!
Fraternalmente,
Marcio José da Silva
Presidente do Conselho Nacional do Brasil da SSVP