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HomeDECOMDo Abismo à Luz: O Retorno de um Coração Vicentino

Do Abismo à Luz: O Retorno de um Coração Vicentino

Meu nome é Confrade José Ney, e há cerca de 25 anos caminho com a Sociedade de São Vicente de Paulo. Minha história com essa obra de amor começou graças a um amigo chamado Marcelo, que me fez um convite simples — mas que mudaria minha vida: “Vamos participar da Caminhada Vicentina?” Era por volta do ano de 2005 (faz tempo! rs), e eu aceitei sem saber que, ali, começaria uma das jornadas mais importantes da minha vida.

A Caminhada Vicentina era um encontro que acontecia todos os anos, reunindo jovens em busca da fé, do serviço e da amizade. A partir desse encontro passei a frequentar a Conferência Nossa Senhora Mãe da Igreja, onde fui acolhido com carinho e firmeza, e onde sigo até hoje.

Naquela época, eu participava do grupo jovem chamado JAM – Jovens Amigos de Maria, um grupo verdadeiramente abençoado, cheio de amor, fé e entusiasmo. Vivíamos a juventude com intensidade, alegria e missão. Tínhamos até desafios saudáveis entre meninos e meninas: saíamos pelas ruas arrecadando alimentos para montar cestas básicas para os assistidos da Conferência — nossos mestres e senhores. Foi, sem dúvida, um dos períodos mais felizes da minha juventude.

Mas a vida, às vezes, nos surpreende com dores profundas.

Primeiro veio a perda do meu irmão de caminhada, Edgar Caetano Elger, um amigo/irmão de infância que também fazia parte do JAM, que faleceu em um trágico acidente de carro em 2010. Aquilo abalou profundamente o grupo. Aos poucos, muitos de nós fomos perdendo a força, a chama foi enfraquecendo… e a caminhada dentro da Igreja começou a desmoronar.

Três anos depois, a ferida se aprofundou: minha irmã, Caroline Estefany de Moura Dias, com apenas 19 anos, faleceu por complicações causadas por uma biópsia. Ela sofria de hepatite autoimune. Foi pouco depois da Jornada Mundial da Juventude de 2013. Essa dor me destruiu. Me afastei da Igreja, abandonei a faculdade, me envolvi com álcool, cigarro, relações vazias e destrutivas… Me perdi completamente. Eu, que sempre fui da Igreja, mergulhei num abismo escuro e silencioso.

A dor de perder minha irmã foi como perder o chão — mas o que me machucava ainda mais era ver o sofrimento dos meus pais. Minha mãe gritava de desespero. Meu pai chorava. Aquilo dilacerava meu coração, me destruía por dentro. Eu carregava um ódio imenso, uma raiva profunda, que me fazia dizer coisas pesadas a Deus. Eu blasfemava, gritava, xingava Deus. Tive a audácia de desafiá-Lo — sim, cheguei a dizer que queria “resolver no braço com Ele”. (Imagina se Ele aparecesse, né? rs…) Mas, no silêncio da minha alma, onde ninguém via, eu implorava a Deus para consolar o coração da minha mãe. Eu pedia: “Se ainda tiver um pouco de misericórdia, cuida dela, cuida do meu pai… porque eu não aguento mais ver essa dor.”

Mas Deus não me deixou lá.

Em 2018, recebi um novo convite — dessa vez da consocia Jane, presidente da Conferência. Ela pediu para eu representar a juventude do Central de Caxias no Encontro da Juventude Vicentina, promovido pela Comissão de Jovens, Conselho Metropolitano do Rio de Janeiro. Eu hesitei. Estava afastado, ferido, desacreditado. Pensei: “Ela sabe que eu estou afastado de tudo com relação a igreja… o que eu vou fazer num encontro de jovens?” Fui sem fé, até com más intenções — queria apenas socializar, talvez encontrar alguém.

Mas Deus já tinha outros planos…

Ali, naquele encontro, tomei um verdadeiro tapa na cara espiritual. recebi um choque de amor e verdade. Fui acolhido por uma juventude cheia de fé, alegria e entrega. Deus olhou pra mim naquele momento e disse com firmeza: “Acorda, garoto!” Uma das histórias que me tocou profundamente foi a do Cfd. Vitor, um menino de apenas 13 ou 15 anos, era presidente de uma conferência em São Gonçalo – RJ. com a ajuda da sua família, que contou que teve que dividir um quilo de açúcar entre quatro famílias. Aquilo me destruiu por dentro. Eu pensei: “Eu, com mais de 30 anos, não faço nada… e esse menino já é exemplo de força e caridade.”

Voltei com o coração apertado, mas desperto. Arrecadei duas grandes caixas de alimentos no meu trabalho e com o pessoal do meu bairro e as enviei ao Metropolitano para apoiar a conferência do Vitor. Aquelas caixas foram meu primeiro pedido sincero de perdão a Deus. Meu primeiro passo de volta a Cristo e a igreja.

Desde então, sigo firme. Reencontrei minha fé e meu propósito. Voltei para a Conferência Nossa Senhora Mãe da Igreja, fiz parte da Comissão de Jovens e hoje atuo como membro do DECOM (Departamento de Comunicação) do Conselho Metropolitano do Rio de Janeiro. E posso dizer, com toda convicção: “Fui resgatado pela graça e reenviado à missão pelas mãos da Juventude Vicentina”.

Hoje, olho pra trás com gratidão. Pela amizade dos meus amigos do grupo JAM, pelo convite da Csc. Jane, pela juventude que me acordou e acolheu e por Nossa Senhora e Deus — que nunca me deixou, mesmo quando eu os deixei. A dor me afastou, mas o amor de Cristo, vivido em cada rosto vicentino, me trouxe de volta.

Sou testemunha de que ninguém está tão longe que Deus não possa alcançar. E enquanto eu viver, quero gritar ao mundo:

Vale a pena voltar. Vale a pena amar. Vale a pena ser vicentino.

Tenho vivido momentos que jamais esquecerei ao lado da Juventude Vicentina. Cada encontro, cada sorriso, cada missão compartilhada se torna uma chama que acende ainda mais minha fé e meu propósito. São dias que marcam a alma, amizades para a vida que abraçam o coração e experiências que me lembram que vale a pena acreditar, lutar e servir.

E se tem algo que carrego no peito com orgulho e gratidão é isso:

Meu amor é, e sempre será, incondicional pela Juventude Vicentina. 💙

Gratidão a Deus, a Nossa Senhora e a todos da Sociedade de São Vicente de Paulo

Confrade José Ney
Coordenador do Decom do CMRJ